Transcorria o ano de 1954, na Costa do Pesqueiro interior do Amazonas, lugar quase virginal de matas e igapós luxuriantes e de mormaço peculiar, as águas espelhadas pelo sol generoso e as noites pontilhadas de estrelas e vagalumes, os sons da floresta se faziam ouvir através do ronco potente do macaco guariba e outros animais daquele bioma quase éden, ali reinava a paz e a ordem natural. Precisamente no mês de junho renasci circundado por belezas que somente bem tarde iria apreciar. Meu primeiro vagido fez eco na floresta e meu primeiro alento foi em ar puro e sagrado, retornei as experiencias pelas mãos de hábil parteira, parto normal, ainda bem!
Meu nascimento foi saudado pelo estouro de três fogos de artíficio que indicavam que era menino!
Ainda “curumin” era hora de reconhecer o novo ambiente, as restingas, as àguas e igarapés, os pássaros que voavam livre e o bôto e suas seduções como irresistível conquistador das caboclas que ali viviam, quantas estórias...
O tempo passava morno e lento e eu sentia em mim a necessidade de rabiscar, fazia isso em solo molhado pelas constantes chuvas tropicais, sim, já desenhava, mesmo toscamente desenhava, crescia e aprimorava o traço que tantas vezes dividia com modelações em argila. A arte já despertava em mim.
Mais tarde, minha família migra para a capital Manaus. Novas chances de crescimento me aguardavam, entro em contato com a escola de arte, conheço os mestres locais e inicio uma nova etapa com materiais que desconhecia, pincéis, tintas e telas!
Participo de salões onde fui contemplado com alguns prêmios, faço exposições e sinto-me um artista em crescimento.
Mais uma vez, tendo sentido chegar o tempo de novas experiências, migrei novamente, ou melhor, “peguei a estrada” com a esposa, a mochila, a maleta de tintas e um sonho para realizar: viver de arte!
Visitei várias capitais brasileiras, experienciei o movimento cultural local e chegamos à São Paulo onde pretendíamos permanecer, ledo engano...
O sonho cedeu à realidade e deixamos São Paulo em direção ao Rio de Janeiro para uma rápida visita, e mais uma vez o destino se fez determinante, o Rio seria nosso novo lar.
O movimento de arte era febril e as galerias infestavam a cidade exibindo um mercado receptivo e acolhedor, um novo mundo descortinava-se e nele penetrei resoluto. Iniciei participando de salões, coletivas, até a sonhada exposição individual que determinou meu ingresso no mercado, com as bençãos dos marchands atuantes da época.
Pronto! Já estava no caminho e para permanecer nele tinha que trabalhar duro conduzido pela pintura como força interna da alma.
Sim, Amo a Pintura!