Amazonas, terra das águas, enchentes e vazantes, dos rios, lagos e igarapés tranqüilos que refletem o céu em sua superfície espelhada. Suas matas, nimbadas de sol tropical e bafejadas pelo mormaço, entronizam a beleza e o mistério de suas lendas. O caboclo quieto desliza no seu leito de águas pródigas com as quais mantém o diálogo da sobrevivência.

Nesse cenário ribeirinho está a Costa do Pesqueiro, às margens do Solimões e seus remansos. Lá, eu nasci, acolhido pelos sons da floresta e pelo imperturbável céu estrelado. Logo na infância, a arte se fez presente em minha vida e se mostrou através dos desenhos ainda toscos, feitos em terra molhada pelas constantes chuvas e também pelas modelagens iniciais em tabatinga, argila viscosa colhida nas restingas. Os recursos iniciais eram convertidos em cenas do cotidiano que brotavam espontaneamente. Um mundo novo se apresentava com todo o seu potencial expressivo, a vida monótona daquelas paragens animava-se então sob novas perspectivas.

  

Após os primeiros anos ali passados, minha família migrou para a cidade de Manaus, onde recebi a orientação precisa dos mestres locais e a iniciação necessária dos materiais pertinentes ao desenvolvimento do trabalho artístico. Mas as inquietações eram tantas que me conduziram para a cidade do Rio de Janeiro, onde minha mulher e eu nos estabelecemos.

    

O tempo (1985) era de ebulição, plena efervescência no campo das artes plásticas, terreno fértil para os recursos criativos germinarem.

  

A partir daí, inicio um trabalho pertinaz, experimentando técnicas e materiais diversos, impulsionado pelo movimento libertário da contemporaneidade. Fazia da observação um precioso instrumento que estabelecia um laboratório seguro onde a pintura, veículo inesgotável das ideias, agigantava-se.

    

Nesse universo permissível, eu atuo tomado de compulsão criadora, investigo o instinto da cor e a oposição constante entre transparência e opacidade, crio camadas sucessivas através de imprimaduras, utilizando-me de papéis recortados que acomodam as tintas e as transferem para o suporte, produzindo tramas e dobraduras que insinuam sugestivas texturas.

    

As formas, âmago e embrião gerado a partir das intervenções contínuas, ordenam o caos inicial, nomeando valores expressivos. Convertidos neste impulso para fecundar a obra, inserem-se os materiais possíveis como: carvão, pigmentos, colas e resinas. Pinto, lavo e seco, construo e desconstruo, tudo é plano, tudo é pano, tudo é tela, do chão à janela tudo é arte.

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